quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Série de documentários enfoca personalidades da vida social e cultural do Amazonas

Uma senhora que vai ao cinema religiosamente todos os dias. Um médico que dá nome a uma das principais ruas de Manaus. Um ídolo do futebol dos anos 1960. Estes e outros personagens estão no Projeto Memória Oral, série de documentários que enfoca figuras marcantes das artes, do esporte, da política e da vida cultural contemporânea do Amazonas. As primeiras produções da iniciativa já podem ser conferidas no Cultura Amazonas, canal da Secretaria de Cultura do Amazonas no Youtube.

Com relatos e impressões em primeira pessoa e pesquisas históricas rigorosas, o Projeto Memória Oral destaca personagens icônicos da sociedade e da cultura amazonense, como o artista visual Óscar Ramos, o músico Zeca Torres, o poeta Max Carphentier, e o advogado e jornalista Paulo Figueiredo. A lista de nomes inclui ainda figuras que hoje vivem apenas na saudade e nas páginas da História, como o artista plástico Moacir Andrade, o dramaturgo Edney Azancoth e o médico Djalma Batista.

Ao todo, a série abrange 52 documentários, 16 dos quais já estão disponíveis no canal Cultura Amazonas da plataforma de vídeos Youtube, acessível pelo endereço www.youtube.com/culturaamazonas . O projeto tem produção de Sergio Cardoso, artista visual, dramaturgo e realizador audiovisual, que assina direção, roteiro e fotografia de todos os títulos da série, idealizada pelo secretário estadual de Cultura, Robério Braga.

De acordo com Cardoso, o germe do projeto surgiu de proposta feita a ele pelo secretário de Cultura para criar um “sistema de documentação da memória oral da cultura amazonense”. “Sugeri alguns nomes a ele, e logo começamos a gravar”, recorda o realizador. “Foi uma prova de confiança, pois o secretário sabia que eu, assim como ele, sou um conhecedor da História e das figuras importantes da sociedade e da vida cultural do Amazonas”.

Por sua vez, Braga reitera as recordações do realizador audiovisual e enfatiza a importância evidente do Memória Oral. “Sergio é talvez a única pessoa que poderia aceitar esse desafio e fazer o projeto virar realidade, tendo o conhecimento em todos os meios da vida social e cultural e o respeito à memória requerido para as extensas pesquisas que esse trabalho exige. Sobre a importância de se preservar os relatos de quem viveu e vive a História é desnecessário falar, mas o projeto agora ganha um alcance ainda maior, contribuindo para difundir esse conteúdo num veículo próprio das novas gerações, como é o Youtube”, declara o secretário.

Recontando a História – Dentre os personagens em foco nos títulos já lançados está Djalma Batista (1916-1979). Hoje lembrado no nome de uma das principais ruas da capital do Estado, o médico, escritor e cientista é revivido nos depoimentos de membros da Academia Amazonense de Letras, coletados por ocasião do centenário de seu nascimento, no ano passado. Aí se incluem, entre outros, os historiadores Robério Braga e Geraldo dos Anjos, a socióloga Marilene Corrêa e o poeta Thiago de Mello.

Entre nomes importantes do cenário das artes incluídos na série, o realizador cita o de Óscar Ramos. “Ele conta seus passos da infância em Itacoatiara até os dias atuais, incluindo sua trajetória no cinema brasileiro. Óscar é um grande diretor de arte, talvez o maior nome do cinema nacional atualmente em Manaus, e trabalhou em filmes importantes do cinema do Brasil e de fora”, assinala.

O período do regime militar no Amazonas vem à tona nos relatos dos jornalistas Arlindo Porto e Paulo Figueiredo. “Arlindo Porto foi também político, o único parlamentar amazonense cassado pelo golpe militar de 1964. Já Paulo Figueiredo lançou há poucos anos o livro ‘O golpe militar no Amazonas – Crônicas e relatos’, e o depoimento dele resultou num filme riquíssimo de informações e com um ritmo quase de filme de ação”, comenta o diretor.

O esporte também comparece em diversos filmes do Memória Oral. “Temos o Pepeta, o amazonense que fez o gol em 1969 no Maracanã, no jogo histórico do Nacional Futebol Clube contra o Maringá, e os ‘irmãos coragem’ Edson e Antonio Piola. E Flaviano Limongi, criador da Federação Amazonense de Futebol”, cita Cardoso.

Há ainda figuras curiosas: é o caso da professora aposentada Maria de Nazareth Pinto, que desde os anos 1960 se dedica à ‘missão’ de ir ao cinema todos os dias. “Ela já assistiu a mais de 16 mil filmes, e hoje cumpre um papel de divulgar e comentar sobre os filmes em cartaz entre seus colegas no Clube do Idoso”.

Todos os filmes do Projeto Memória Oral trazem em primeiro plano os relatos pessoais dos entrevistados, sejam eles os próprios personagens em foco ou pessoas que conviveram com eles. Em paralelo aos testemunhos, os filmes também resgatam imagens, documentos e publicações em jornais e revistas, obtidos a partir de pesquisas históricas realizadas por Cardoso para o projeto.

“Quando narra sua vida, a pessoa automaticamente faz ligações com momentos da História do Amazonas e do Brasil. E essas são pessoas inseridas na ‘dramaturgia’ da sociedade amazonense. Pessoas que viveram as repercussões do suicídio de Getúlio Vargas ou do golpe militar de 1964, por exemplo, ou ainda testemunharam o desenvolvimento de Manaus com a Zona Franca”, comenta.

Mostra e DVDs – Além de disponibilizados na Internet, os títulos da série deverão mais à frente ser exibidos numa mostra e lançados num box em DVD. Cardoso, que também é diretor do Departamento de Difusão Cultural da Secretaria de Cultura, destaca essa nova etapa da iniciativa.

“Acho importantíssimo o fato desse conteúdo vir a público por meio das plataformas digitais e o fato de termos uma mostra, com a participação de alguns entrevistados”, comenta. “É importante para mim, como artista, participar disso. É o momento em que tenho a possibilidade de contribuir para a sociedade produzindo memória, e a Secretaria de Cultura também sempre levou esse ideal à frente”.

Além de Cardoso, à frente da direção, roteiro e fotografia, todos os filmes do Projeto Memória Oral têm edição e finalização de Marcio Nascimento e dos estagiários Drance de Jesus Bonfim e João Portilho, do curso de Audiovisual da Universidade do Estado do Amazonas.

Quem é – Nascido em Manaus, em 1954, Sergio Vieira Cardoso é artista plástico, dramaturgo e realizador audiovisual. Inicia sua carreira na pintura na década de 1970, como autodidata. Entre outras, participou de exposições como “Artistas Amazonenses” (1979) e “Artistas Contemporâneos do Amazonas” (1989), ambas em São Paulo; e “Verde Contemporâneo” (1989), no Rio de Janeiro.
Atuou também como coordenador de assuntos culturais na Secretaria de Educação e Cultura do Amazonas, de 1981 a 1991; como diretor superintendente da Televisão Educativa do Amazonas, em 1987; e como superintendente cultural do Estado, entre 1990 e 1991.  É autor de textos célebres do teatro contemporâneo amazonense, entre eles “Carmem de Lazone”, “Mundica”, “Crhisályda Lapella (Caruso jamais cantou aqui)” e “A herança maldita de Mercedita de La Cruz”. Além do Projeto Memória Oral, seu trabalho como realizador audiovisual inclui o longa-metragem “Marie La Guerre”, a ser lançado em breve.

LISTA
Documentários do Projeto Memória Oral já disponíveis no Youtube

Antônio Barata – Memória da Livraria Acadêmica (27min)
Edney Azancoth – Memória de um autor amazonense (36min)
Flaviano Limongi – Um abraço, um beijo, uma saudade e uma rosa (44min)
Hahnemann Bacelar por Adélia – A mãe conta o artista (38min)
Jerusa Mustafá – A pianista da cidade (15min)
Moacir Andrade – Pintor, escritor, historiador e antropólogo amazonense (30min)
Paulo Figueiredo – Memória do Golpe Militar no Amazonas (65min)
Carlos Zamith – O baú da vida e do futebol (29min)
Otoni Mesquita – Narrativas da vida e da arte (36min)
Zeca Torres – O porto das canções (14min)
Pepeta – Coração de campeão (23min)
Fernando Jr. – O artista dos registros urbanos no tempo (20min)
Centenário de nascimento de Djalma Batista (30min)
Amazonas: Casos e causos de Nikolaus Heinrich Witt (47min)
Amadeu Teixeira (17min)
Maria de Nazareth Pinto - A rainha dos cinemas de Manaus (18min)

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